UM HOMEM QUE OUSAVA PENSAR
Faleceu ontem, 09/12, Luiz Carlos Maciel, aos 79 anos.
Os livros de Maciel que li foram de grande proveito e prazer pois são bem escritos e com ótimas observações sobre a vida, a alienação, a constituição da sociedade e como grandes filósofos formularam as questões básicas que nos afligem.
Ele ousava pensar
a contrapelo com suavidade e domínio das categorias que questionava. Dos livros
que li o que mais me chamou a atenção foi AS QUATRO ESTAÇÕES pois neste livro buscou
dar um status ontológico "respeitável" à contracultura mostrando que
a racionalidade em que se apoiam os grandes pensadores se virada pelo avesso
pode ser vista como um desatino.
Maciel
sempre mostrou que a maneira como vemos a realidade e a própria consciência
podem ser armadilhas fatais. Sem rodeios vejam aqui o que o cara escreveu na
página 255 do livro citado:
"Reparei que um dos sinais do excessivo grau
de alienação que vivemos coletivamente hoje em dia é a crença generalizada,
supersticiosa e cega em tudo o que sai na mídia, seja ela impressa ou,
principalmente, televisiva. O homem comum acredita em tudo o que lê nos jornais
ou vê na televisão como se fosse a expressão rigorosa da realidade objetiva."
Sem
dúvidas que na raiz da maneira de pensar de Maciel estava o budismo. Mas ele
conhecia todos os grandes filósofos, (escreveu uma pequena biografia de
Sartre), Marx, Hegel, pré-socráticos, Heidegger, (embora eu duvide que alguém
entenda o que quis dizer este camarada), Freud, Reich, Nietzsche, Marcuse entre
outros.
Maciel
era a febre do rato e nos deixou livros muito legais, cheios de esperança e
serenidade diante dos tormentosos problemas da existência (para quem pensa) mas
enfrentou problemas financeiros recentemente. Espero que velhos companheiros
não o tenham deixado para trás em mais este momento da jornada.
Poderia
ter vivido folgadamente apenas dos direitos autorais mas como não produzia mais
alienação, ao contrário, investia sobre as teias de aranha da consciência, e
vivendo em um pais de analfabetos distribuiu pepitas a troco de seu sacrifício.
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