domingo, 10 de dezembro de 2017

           UM HOMEM QUE OUSAVA PENSAR


          
 


Faleceu ontem, 09/12, Luiz Carlos Maciel, aos 79 anos.

Os livros de Maciel que li foram de grande proveito e prazer pois são bem escritos e com ótimas observações sobre a vida, a alienação, a constituição da sociedade e como grandes filósofos formularam as questões básicas que nos afligem.

Ele ousava pensar a contrapelo com suavidade e domínio das categorias que questionava. Dos livros que li o que mais me chamou a atenção foi AS QUATRO ESTAÇÕES pois neste livro buscou dar um status ontológico "respeitável" à contracultura mostrando que a racionalidade em que se apoiam os grandes pensadores se virada pelo avesso pode ser vista como um desatino.

Maciel sempre mostrou que a maneira como vemos a realidade e a própria consciência podem ser armadilhas fatais. Sem rodeios vejam aqui o que o cara escreveu na página 255 do livro citado:
"Reparei que um dos sinais do excessivo grau de alienação que vivemos coletivamente hoje em dia é a crença generalizada, supersticiosa e cega em tudo o que sai na mídia, seja ela impressa ou, principalmente, televisiva. O homem comum acredita em tudo o que lê nos jornais ou vê na televisão como se fosse a expressão rigorosa da realidade objetiva."

Sem dúvidas que na raiz da maneira de pensar de Maciel estava o budismo. Mas ele conhecia todos os grandes filósofos, (escreveu uma pequena biografia de Sartre), Marx, Hegel, pré-socráticos, Heidegger, (embora eu duvide que alguém entenda o que quis dizer este camarada), Freud, Reich, Nietzsche, Marcuse entre outros.

Maciel era a febre do rato e nos deixou livros muito legais, cheios de esperança e serenidade diante dos tormentosos problemas da existência (para quem pensa) mas enfrentou problemas financeiros recentemente. Espero que velhos companheiros não o tenham deixado para trás em mais este momento da jornada.

Poderia ter vivido folgadamente apenas dos direitos autorais mas como não produzia mais alienação, ao contrário, investia sobre as teias de aranha da consciência, e vivendo em um pais de analfabetos distribuiu pepitas a troco de seu sacrifício.


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