domingo, 31 de dezembro de 2017


                   FINAL DE ANO: UMA MENSAGEM AOS LEITORES 


                

Caso você tenha um objetivo que realmente considera relevante nunca desista dele, não meça os sacrifícios, se preciso for bata um avião contra uma torre, desafie a miséria extrema mas jamais desista.
Isto vale também se você tiver um grande amor. Lembro-me do que disse Drumond de Andrade em um de seus poemas, "amor que acaba não é amor e merece realmente acabar."
Quando você desiste de seus objetivos renuncia um pouco ao que você é, perde sua identidade. E quando sua identidade entra em crise isto repercute entre suas pernas, como dizia Paulo Francis.
Tudo o que é feito com paixão ganha um toque de grandeza. Creio que um pouco de fanatismo ajuda a viver. Desta maneira é melhor até ser stalinista do que não ser coisa nenhuma. A receita certa para o fracasso é fazer as coisas pela metade.
Renunciei a poucas coisas, não se pode ter tudo o que se quer. Aprendi que existem coisas que se faz ou abandona de uma vez, sem olhar para trás. Esta é a melhor parte... Foi assim que aprendi o valor do esquecimento, do lapso de memória, da amnésia ou até do mal de Alzheimer.
Já li em algum lugar que a experiência tem o mesmo valor para nós que os faróis voltados para trás em um carro. Não concordo, sempre se pode recomeçar tudo de novo. Mas acho importante mesmo é ter colhões para colocar todas as fichas em uma só parada.
O Brasil é uma sociedade autoritária e se você vacilar um simples segurança de shopping vai querer lhe colocar de joelhos. E aí se você amar mais a vida que sua honra vai também arriar as calças e rastejar como um verme.
E a coragem é a mãe de todas as virtudes pois sem ela as outras não se sustentam...


domingo, 10 de dezembro de 2017

           UM HOMEM QUE OUSAVA PENSAR


          
 


Faleceu ontem, 09/12, Luiz Carlos Maciel, aos 79 anos.

Os livros de Maciel que li foram de grande proveito e prazer pois são bem escritos e com ótimas observações sobre a vida, a alienação, a constituição da sociedade e como grandes filósofos formularam as questões básicas que nos afligem.

Ele ousava pensar a contrapelo com suavidade e domínio das categorias que questionava. Dos livros que li o que mais me chamou a atenção foi AS QUATRO ESTAÇÕES pois neste livro buscou dar um status ontológico "respeitável" à contracultura mostrando que a racionalidade em que se apoiam os grandes pensadores se virada pelo avesso pode ser vista como um desatino.

Maciel sempre mostrou que a maneira como vemos a realidade e a própria consciência podem ser armadilhas fatais. Sem rodeios vejam aqui o que o cara escreveu na página 255 do livro citado:
"Reparei que um dos sinais do excessivo grau de alienação que vivemos coletivamente hoje em dia é a crença generalizada, supersticiosa e cega em tudo o que sai na mídia, seja ela impressa ou, principalmente, televisiva. O homem comum acredita em tudo o que lê nos jornais ou vê na televisão como se fosse a expressão rigorosa da realidade objetiva."

Sem dúvidas que na raiz da maneira de pensar de Maciel estava o budismo. Mas ele conhecia todos os grandes filósofos, (escreveu uma pequena biografia de Sartre), Marx, Hegel, pré-socráticos, Heidegger, (embora eu duvide que alguém entenda o que quis dizer este camarada), Freud, Reich, Nietzsche, Marcuse entre outros.

Maciel era a febre do rato e nos deixou livros muito legais, cheios de esperança e serenidade diante dos tormentosos problemas da existência (para quem pensa) mas enfrentou problemas financeiros recentemente. Espero que velhos companheiros não o tenham deixado para trás em mais este momento da jornada.

Poderia ter vivido folgadamente apenas dos direitos autorais mas como não produzia mais alienação, ao contrário, investia sobre as teias de aranha da consciência, e vivendo em um pais de analfabetos distribuiu pepitas a troco de seu sacrifício.


sábado, 2 de dezembro de 2017

           AINDA SOBRE OS LANCEIROS


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Os punguistas com seus truques para afanarem nós consumidores brotam como cogumelos depois de uma chuva, estão em todos os lugares, daí devemos conferir os valores lançados nas notas e cupons fiscais, contar as mercadorias na frente do lanceiro, conferir os preços constantes nas gôndolas com os preços dos cupons fiscais ou notas fiscais, guardá-las pois no momento da troca os batedores de carteiras se valem do expediente de que estando o cidadão sem o cupom fiscal ele pode negar direitos a quem paga a conta; comparar preços também é muito bom.

Os punguistas escondidos por trás de uma pessoa jurídica são verdadeiros mágicos, treinam seus truques para afanar o consumidor desavisado e só com atenção direcionada se pode perceber as fraudes.

Grandes lojas também praticam idênticas fraudes dos donos de mercadinhos e bares (que sempre colocam um chop ou cerveja a mais na conta), por exemplo, a lojinha de seu Abílio Diniz, o Extra, colocava um preço na gôndola abaixo do constante no código de barra para ilaquear o consumidor, que acreditava está comprando mais barato...

Mas tem um golpe que sem a atuação do Ministério Público será difícil combater: a prática da agiotagem usando como isca mercadorias. Consiste no seguinte: dividir uma compra em prestações, por exemplo, seis, e dizer que o preço da compra paga à vista é o mesmo da compra em prestações, não existe juros.

Não acredite, é economicamente inviável, portanto, um logro contra seu bolso. Mas todos praticam esta agiotagem, daí não termos mais comerciantes só agiotas disfarçados.

A única saída é não comprar ou quando comprar, atirar na cara do agiota a verdade, dizer que vai comprar à vista mas que só se ele retirar os juros pois a compra não será parcelada. Esteja disposto a deixar a mercadoria em cima do balcão ou será vitimado pelo agiota...


quinta-feira, 30 de novembro de 2017

             O MUNDO É DOS PUNGUISTAS


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Um amigo professor universitário escreveu em sua página do Facebook: "Desligado, por deformação profissional, nunca confiro notas. Hoje conferi, o mercadinho havia transformado uma conta de 4 reais em 40. Confira as suas. Eu q pensava q já havíamos deixado o pré-capitalismo pelo capitalismo...."

Depois de ler a atualização de status do professor conclui com base em minha observação do cotidiano que afanar os outros hoje no Brasil é normal, é prática generalizada, virou epidemia.

É por estas e outras que eu e um amigo estamos praticando o CONSUMO MÍNIMO, sem combinação prévia, para evitarmos aborrecimentos desta natureza. 

Ele teve os dissabores de ter comprado quatro aparelhos de celular (um para ele, outro para a mulher e os dois restantes para os dois filhos) e todos com defeito, foi sacaneado e viu que para quem raciocina, compara preços e percebe que é furtado da maneira mais vil como foi também o caso do professor consumir hoje no Brasil é um DESPRAZER.

Acredito que estas práticas de batedor de carteiras terá um dia, espero que em breve, impacto na economia, redução do consumo.

Anotem: estas práticas de punguistas não é exclusividade de donos de mercadinhos, grandes empresários as cometem na caradura... Aliás, quando alguém lhe falar que é empresário imediatamente segure a carteira e fique atento, confira tudo, desconfie de tudo pois é só raspar a tinta e terá um lanceiro em sua frente...


quarta-feira, 22 de novembro de 2017

                   ADVOCACIA E ADVOGADOS


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Modesto da Silveira, "herói da advocacia e da democracia" nas palavras de Pedro Serrano
           
Quando soube da morte de Modesto da Silveira em 22 de novembro de 2016 escrevi este texto. Hoje completa um ano de seu passamento. Sua história deve ser conhecida por quem quer saber como foi a advocacia durante a ditadura instalada em 1964, período em que os advogados não raramente tinham que arriscar suas vidas ou a integridade física na defesa de seus constituintes presos políticos.

Modesto foi o advogado que defendeu o maior número de presos políticos durante a ditadura dos militares; foi sequestrado pelo esbirros do DOI-CODI e não se intimidou, foi eleito deputado federal e lutou pela anistia dos perseguidos políticos   

Escrevi aqui sobre livros que li e que tratam da advocacia e da biografia de advogados. Por esquecimento não mencionei dois que merecem ser lidos e que tratam de casos específicos, A BECA SURRADA, de Alfredo Tranjan, só advocacia penal, e ADVOCACIA DA LIBERDADE, de Heleno Claudio Fragoso.

Heleno Fragoso era um homem culto, autor de muitos livros de direito e sua morte me impactou, não sei por que, talvez pelo fato da surpresa, morreu de enfarto, e por ser um advogado brilhante e muito querido por quem desejava o fim da ditadura.

Seu livro TERRORISMO E CRIMINALIDADE POLÍTICA é um primor de reflexão sobre os crimes políticos. A ADVOCACIA DA LIBERDADE é muito bem escrito, relata casos e teses esgrimidas em processos em que defendeu os que enfrentaram os delinquentes que assaltaram o poder em 1964.

Decidi ser advogado depois que li uma entrevista com Francisco Julião no PASQUIM, em 1978 ou 1979. Julião dizia que depois de formado em direito decidiu defender camponeses pois era uma gente que ninguém queria como cliente, não tinham dinheiro para pagar honorários e coisa e tal...

Foi assim, que decidi antes de entrar no curso de direito que seria advogado trabalhista, mas como a gente faz um plano e a vida faz outro até chegar à advocacia trabalhista percorri outros "Cearás". Hoje, eu e a advocacia trabalhista estamos juntos até que a morte nos separe...

Francisco Julião se exilou no México depois do golpe de 64. Quem o conduziu até a embaixada foi Antonio Callado; foi uma peripécia livrar Julião das garras dos que chegaram ao poder ávidos por sangue.

No México Julião morou em Cuernavaca, onde vendia doces para sobreviver, e voltou ao Brasil em 1979. Se filiou ao PDT, foi candidato a deputado mas não foi eleito, o país era outro, e parece que ele nunca mais se reencontrou com o país que deixou antes de seguir para o exílio. Voltou para Cuernavaca e lá morreu em 1997. História triste a de Francisco Julião.


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

             CAVANDO A PRÓPRIA COVA


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A classe dominante é terrível, tem uma sabedoria mundana elaborada e sabe como manipular a opinião pública. Privatizou o debate, incluiu na pauta como dizem os jornalistas, assuntos adstritos à vida privada, coloca homens contra mulheres, estimulando o sexismo, negros contra brancos, heterossexuais contra lésbicas e homossexuais.

Com isto jogou para debaixo do tapete a luta de classes escancarada na reforma trabalhista que retira dinheiro dos trabalhadores para transferir para o empresariado.

A vida sexual diz respeito à vida particular de cada pessoa e ninguém deve se meter embaixo dos lençóis de ninguém sem ser convidado, acho. Racismo é conflito particular quando um palhaço comete os crimes de racismo e de injúria racial, exceto quando a segregação advém de lei.

Sexo (dos outros), racismo, religião e corrupção são assuntos que quando agitados pelos meios de comunicação geram bons frutos para a classe dominante, histeria, conflitos particulares, fragmentação da sociedade e da opinião pública.

No final de todo este ciclo político aberto com o golpe de 2016 teremos um país muito pior, mais dividido, mais pobre, com cidadãos piorados, mais canalhas, mais mesquinhos, mais desumanizados, moralmente apequenados. Mas com tanta gente trabalhando para cavar a própria cova como duvidar que este resultado será alcançado?


sábado, 11 de novembro de 2017

                  PRIVATIZARAM TUDO



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A filósofa Judith Butler foi agredida verbalmente no Aeroporto de Congonhas na manhã de sexta-feira, dia 10.

Esta é uma consequência da manipulação das pessoas na luta ideológica nestes dias em que o neoliberalismo privatiza tudo, até os conflitos sociais, e a ideologia de gênero sexuais é uma destas facetas, a outra é o racismo.

Só a luta de classes publiciza os conflitos pois é inerente às classes sociais a despersonalização dos sujeitos envolvidos. Georg Luckács era filho de banqueiros, Engels era industrial e filho de industrial, Marx era da chamada classe média e formado em direito, Lênin também era advogado, Fidel era filho de latifundiário e advogado e isto nunca foi relevante na luta política e ideológica que travaram.

Hoje, 11/11, começou a vigência da mais agressiva retirada de direitos trabalhistas e sociais desde 1943, quando Vargas outorgou a CLT. Mas é isto mesmo, o que esperar de adversários que defendem o mais desbragado projeto de submissão ao império? Nós é que estamos sem iniciativa, sem a reação necessária ao tão duro empobrecimento que virá pois não estamos ideologicamente armados para o enfrentamento mobilizando a população trabalhadora.

Os conflitos estão privatizados, importa o debate sem fim sobre o que as pessoas devem ou não fazer em suas vidas privadas ou se William Waack é racista ou não, como se todos os negros gostassem de brancos.

Está tudo privatizado, a ofensiva neoliberal está nadando de braçada e viabilizando uma nova onda de acumulação de capital com articulações ideológicas e de exploração que pensávamos superadas.


sábado, 14 de outubro de 2017

                                       A ÚLTIMA QUIMERA

        
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"A política gosta da traição mas odeia  o traidor." Leonel Brizola
          

Com a destruição da classe política os aventureiros começam a subir e com eles mais ainda a instabilidade e a fraqueza dos governos, o DEM articula lançar Luciano Huck a candidato a Presidente da República [1].

Mas é isto o que a Rede Globo quer, homens fracos no leme, instituições estioladas, partidos fracos, opinião pública fragmentada, enfim, a terra arrasada para ela poder mandar.

Até agora a guerra feita pela Rede Globo para desinformar, destruir reputações de inimigos com mentiras, emparedar um Judiciário amedrontado tem dado parcialmente bons resultados.

Com sua guerra "jornalística" causou grandes baixas ao PT e tem obtido relativo êxito na perseguição ao Presidente Lula, emparedou o Congresso com uma campanha facinorosa sobre os custos do sistema representativo, que ela chama os salários dos políticos, comparando com outros países em que em tudo por tudo as pessoas são mais iguais.

A desigualdade dos salários dos representantes do povo no Legislativo é apenas mais uma das que afligem a sociedade brasileira mas a Rede Globo e seu sequazes analfabetos políticos só vêem a menos importante, os salários dos políticos.

Desacreditar a ação política, os partidos e por esta via oblíqua a democracia é fundamental para os irmãos Marinho pois é pela política que se muda ou se perpetua a realidade das sociedades.

Outros agentes da classe dominante fizeram um grande trabalho ao banir as ideologias de esquerda do espectro político, as ideologias que se amparam nas teses do socialismo e na luta de classes foram substituídas pelas ideologias de gênero sexuais e da guerra de raças.

Muita gente de esquerda ajudou a bater pregos no próprio caixão da esquerda, abriu mão dos fundamentos do marxismo e da luta de classes em favor de um racismo "bonzinho" e da luta entre os gêneros em que os homens, heterossexuaisbrancos e velhos são os vilões. Que coisa tosca e ridícula...

Marx apontou em A IDELOGIA ALEMÃ um fato sempre atual e tão velho quanto as sociedades, a luta ideológica; neste embate as ideologias colidem e não ocupam o mesmo espaço na cabeça e no coração dos homens, umas expulsam outras quando ganham as cabeças e aí assim ganham força material.

Foi assim que foi expulsa a ideologia do combate às desigualdades dos governos do PT e a ideologia do combate à corrupção ganhou a cabeça dos incautos e desavisados.


Nota

[1] DEM quer lançar Luciano Huck para presidência; Doria já era  

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/dem-quer-lancar-luciano-huck-para-presidencia-doria-ja-era/

 



segunda-feira, 2 de outubro de 2017

               O QUE ACONTECEU A ESTE HOMEM?



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O Ministério Público Federal valendo-se da Receita Federal, do Banco Central, da Polícia Federal e do COAF passou a vida de Antonio Palocci no pente-fino durante cinco anos, de 2011 a 2016 reviraram toda a sua vida pregressa.

As investigações não encontraram nenhum crime, portanto, nada que justificasse instaurar Inquérito Policial e posterior processo. Constatado isso o MPF requereu o arquivamento dos autos do Inquérito Civil [1] e apenas três contratos continuaram sob investigação sob a suspeita de ter ocorrido atos tipificados na lei que pune atos de improbidade administrativa mas sem considerar de antemão a ocorrência de crimes. 

Quatro dias depois do MPF requerer o arquivamento do procedimento investigatório Sérgio Moro decretou a prisão preventiva de Palocci sob a fundamentação de que "era preciso que ele estivesse preso para que provas fossem colhidas."

Muito esquisita esta prisão preventiva de Palocci pois arbitrária e destituída de fundamentos fáticos, a ocorrência de crimes e portanto dos requisitos para a decretação da prisão cautelar [2].

Intriga-me a situação em que se encontra Antonio Palocci: nem a polícia conseguiu implicá-lo em qualquer crime antes da prisão preventiva decretada por Sérgio Moro e agora ele busca se autoincriminar.

Vejam só, assim sem mais, depois de quase um ano de cadeia Palocci aparece perante Sérgio Moro se acusando e tentando implicar o ex-Presidente Lula. O que fizeram a este homem?

Minha conclusão: se até agora nenhum crime cometido por Palocci foi encontrado a delação premiada que ele tanto busca talvez não obtenha sucesso pois terá dificuldade até para se autoincriminar dado que as imputações que arrumou envolvendo o ex-Presidente Lula se mostraram mentirosas.

O que aconteceu a este homem para que mergulhasse em tamanha desonra? Será que foi a perspectiva de ficar sem patrimônio e ainda não saber se sairá vivo da cadeia? Isto não é pouca coisa, só quem não sabe o que é uma cadeia no Brasil acha que é um passeio a situação dele.

Palocci era um alvo cobiçado pelos beleguins de Curitiba. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde cairia nas garras do inimigo. Seja lá o que tenha acontecido a Palocci tenho como certo que ele tinha o dever de resistir e manter-se de pé, não ceder aos carrascos, em especial a Sérgio Moro, não negociar sua honra nem sua vida com os inimigos pois sempre sairia perdendo.

Notas

[1] MPF arquiva parte das investigações da evolução patrimonial de Palocci


domingo, 1 de outubro de 2017

                          FRAUDES JUDICIAIS


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Lênio Streck: um brasileiro honrado 
                               

Terminei de ler uma longa ENTREVISTA COM LENIO LUIZ STRECK que esta disponível no link abaixo [1]. Este cidadão é um brasileiro honrado, luta como um leão pela efetivação dos direitos, todos, principalmente os fundamentais inscritos na Constituição.

É único em seu meio pois nas carreiras jurídicas, principalmente as de mais altos salários, é aferível a existência de uma realidade virtual, doutrinam, esmiúçam leis sem querer tomar conhecimento da efetivação dos direitos ali contidos. O cinismo é tanto que beiram a imoralidade nesta maneira como tratam com a violação dos direitos e a interpretação das leis.

O professor Streck formula com raríssima coragem este problema que tem o seguinte nome: "livre interpretação das provas". Eu chamo de arbitrariedade ou abuso de poder. Para os juízes e doutrinadores da mesma qualidade o nome dado é "eu decido conforme minha consciência". Para eles a fonte do direito não é a legislação, principalmente a Constituição Federal mas a "consciência" deles, o arbítrio, a vontade.

Defendem isso assim mesmo, deste jeito, na caradura. Alguns destes malfeitores procuram dá um verniz jurídico para o que é simples violação da lei invocando Hans Kelsen, mais especificamente o último capítulo do livro TEORIA PURA DO DIREITO. Segundo estes meliantes, assaltantes da interpretação de Kelsen, este ensina que o ato de interpretar pelo juiz ao decidir é um ato de vontade.

Do meu ponto de vista Kelsen não ensina a nenhum juiz decidir conforme quiser fazendo da interpretação dada por quem julga um ato de vontade. Toda a argumentação desenvolvida por Kelsen no tão invocado capítulo VIII são juízos de realidade, não são juízos de valor, não são "ensinamentos" para a violação da legislação por quem deveria tomá-la como único e exclusivo paradigma em suas decisões.

Esta luta solitária de Streck contra o "eu decido conforme minha consciência" o faz um gigante em um território ocupado por anões

Nota

[1] ENTREVISTA COM LENIO LUIZ STRECK



domingo, 24 de setembro de 2017

      A DITADURA QUE SE AVIZINHA


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Esta semana as palavras do General Mourão e do General Vilas Boas [1] provocaram nuvens negras no céu da política pois pela primeira vez depois da ditadura instalada em 1964 o Exército fala abertamente em tomar o poder e fazer outra ditadura.

As Forças Armadas constituem a coluna vertebral do Estado brasileiro, elas garantem a soberania, i. é, a aplicação das leis em todo o território nacional. Colocá-las no poder obviamente em uma ditadura contra o povo é um tremendo tiro no pé pois será rachar esta coluna e os militares um dia se dividirem e se matarem. A luta pelo poder junta mas também divide.

Os EUA em 1964 tramou dividir o país territorialmente em dois ou três caso houvesse resistência ao golpe em Pernambuco com Arraes e no Rio Grande com Brizola. Selaria esta divisão reconhecendo apenas o governo golpista instalado em Minas Gerais governado na época por Magalhães Pinto, golpista de primeira hora.

Jango Goulart sabia deste intento, foi visto como covarde aos olhos de muitos, mas não permitiu que os EUA fizessem com o Brasil o que já tinham feito com a Coreia, com o Vietnam e tinham tentado com algum sucesso com a China ao criar o embaraço para o governo chinês chamado Taiwan.

Com as vitórias sucessivas do PT depois de 2002 e sabendo que não voltaria ao poder por eleições o condomínio direitista capitaneado pelo PSDB e o DEM passou a ter como objetivo fazer outra ditadura, usar os militares para deter a atual tendência reformista da sociedade brasileira.

Mas os militares depois do golpe de 1964, principalmente os do Exército, estavam escarmentados, chamados de assassinos, torturadores, estupradores, covardes, traidores do povo brasileiro, daí o insucesso de atraí-los para outra ditadura até o momento.

Contudo, depois das falas dos dois generais percebe-se claramente que alguma coisa mudou nos quartéis. O problema maior é que as Forças Amadas brasileiras estão sob controle dos EUA, que as utiliza como tropa de ocupação contra os nacionais.

O golpe contra o mandato da Presidenta Dilma é uma conta que não fecha sem que os golpistas provoquem uma baixa nos recursos humanos da esquerda e da própria classe política brasileira pois só assim retardarão por mais tempo a tendência reformista inaugurada com a Revolução de 1930.

Vejamos os exemplos: na Argentina entre os anos de 1976 e 1983 os generais comandaram uma ditadura que matou e fez desaparecer 30 mil civis, constando nesta lista macabra mulheres grávidas, crianças, adolescentes e idosos.

No Chile a ditadura que se instalou em setembro de 1973 no golpe de Estado conduzido localmente por Pinochet matou e desapareceu no total 3.225 pessoas.

A ditadura no Brasil (1964-1985) foi mais seletiva e quando começou a matar muita gente já estava no exílio ou oficialmente presa. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) instalada em 2012 por empenho direto da Presidenta Dilma Roussef e criada por meio da Lei 12.528/2011 apurou e lançou em seu relatório final 434 mortes e desaparecimentos causados pelo aparelho repressivo da ditadura civil-militar. 

Os desaparecidos são 210 e as famílias, apesar de todo o empenho, ainda não puderam dar um enterro digno a seus restos mortais. Ditadura é recurso extremo da luta política. Todas as ditaduras são cruéis e homicidas porque está implícita a ilegalidade e o crime nesta forma de governo, o uso da prisão ilegal, da tortura e do homicídio como meios políticos para exterminar os quadros políticos qualificados dos considerados por ela inimigos.


Pelo que conhecemos delas da América Central para baixo só com ditaduras as classes dominantes locais subalternas ao império conseguem deter as tendências reformistas. Portanto, barbas de molho pois enquanto o PSDB e o DEM estiverem no poder coisa boa não vem por aí.


Nota

[1] Villas Bôas reage à polêmica declaração de general sobre intervenção

O comandante do Exército afirmou que a sua instituição está "comprometida com a consolidação da democracia"

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2017/09/23/internas_polbraeco,628441/villas-boas-reage-a-polemica-declaracao-de-general-sobre-intervencao.shtml

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

              ALLENDE EM SEU LABIRINTO



  Imagem relacionada
                           

  
Assisti e gostei do filme de Miguel Littin, ALLENDE EM SEU LABIRINTO[1]. Está disponível na Netflix, é só baixar colocando Allende no local de busca.

O filme narra o último dia da vida de Salvador Allende no fatídico 11 de setembro de 1973, de quando ele acordou até quando morreu. Miguel Littin não tomou posição sobre as teses vigentes sobre sua morte, se Allende foi assassinado ou se suicidou.

O final é épico, a resistência no Palácio de La Moneda, fuzis contra o bombardeio da aviação e logo depois contra as tropas de assalto dos golpistas. Allende combateu até tombar, sem rendição. A traição de Augusto Pinochet, homicida e ladrão com muitos kilogramas de ouro em banco suíço, está estampada.

Lembro-me do dia 11 de setembro de 1973 por uma cena que vi no JN, a morte de um cinegrafista americano filmando um caminhão de transporte de tropas do Exército chileno, um soldado atirando no cinegrafista até quando ele cai e a câmara perdeu o foco.

Eu não sabia o que estava acontecendo mas me parecia que algo muito triste estava ocorrendo e as cenas do assassinato ressaltavam a coragem do cinegrafista.

11 de setembro de 1973 foi um dia de baixezas e traições mas também um dia de coragem e grandeza na vida do povo chileno pois seu líder não decepcionou, não renunciou nem se rendeu quando as armas falaram. É evidente que os espertos não gostam nem de ouvir falar neste assunto, para eles tudo vale para salvar o pescoço, até rastejar como um verme.


Nota

[1] A última manhã de Salvador Allende
O diretor chileno Miguel Littín finaliza um filme sobre o ex-presidente, no momento em que se completam 41 anos desde sua morte durante o golpe de Estado
https://brasil.elpais.com/brasil/2014/09/11/cultura/1410392420_326240.html

sábado, 9 de setembro de 2017

                         O ADVERSÁRIO É CAPAZ DE TUDO



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Olho procurando compreender em toda a dimensão humana a delação de Antonio Palocci e o depoimento dele ante Sérgio Moro imputando fatos delituosos ao ex-Presidente Lula.

O que está no centro desta discussão sobre Palocci é o quanto o ser humano pode resistir a coações sob qualquer de suas formas, intimidações, ameaças e torturas.

Li sobre torturas e conversei com pessoas que foram torturadas e  uma certeza restou inquestionável: nenhum ser humano sabe exatamente o quanto pode resistir à pior das coações - a  tortura -, não sabe a força que tem diante da dor, da coação física ou moral.

Percebi pelo que me foi dito e lido que a resistência pode variar até mesmo em face do momento psicológico de entusiasmo ou decepção em que a pessoa se encontra, a idade e as experiências anteriores com o tipo de situação.

Victor Serge em seu pequeno grande livro, O QUE TODO REVOLUCIONÁRIO DEVE SABER SOBRE A REPRESSÃO, não nos deixa que esqueçamos que a repressão é uma das funções essenciais de todo poder político.

Por isto, o uso do medo, da intimidação, da tortura e do terror é sempre uma alternativa para uso de policiais, promotores e juízes.

As lições de Victor Serge são preciosas até para quem não pretende fazer revolução tais como os advogados que atuam na área penal e por isto sempre correm o risco de serem presos ao terem suas prerrogativas violadas, sem contar as incontáveis tentativas de intimidação de quem não é do esquema dos policiais corruptos. 

Uma coisa eu tenho como certa, Palocci está sob coação. Assim, é preciso fazer um esforço mínimo para compreender o que ele está passando e que muitos de nós poderemos vivenciar em futuro próximo.   
  
Quantas pessoas que hoje julgam Palocci sabem o que é uma cadeia? Ou já tiveram uma arma de fogo apontada contra si?

Não é uma tarefa fácil se manter altivo e digno em situações de coação. Forças coativas podem vir de diversas fontes, por exemplo, quantas pessoas estão dispostas a morrerem na miséria a não se tornar mais um golpista na praça?

Victor Serge na pág. 84 no capítulo EM CASO DE PRISÃO do livro mencionado nos diz que "o adversário é capaz de tudo" e cita Egor Sazonov: "o inimigo é infinitamente vil".

José Dirceu se manifestou sobre este momento de fraqueza de Palocci. Eis aqui [1] algumas palavras de José Dirceu veiculadas na mídia e na web e com as quais eu concordo totalmente:

"O ex-ministro José Dirceu fez um contraponto entre a sua situação e a do também ex-ministro Antonio Palocci, aponta a colunista Mônica Bergamo.
Segundo ele, é melhor morrer do que perder a dignidade e se tornar delator; Dirceu também afirmou que Palocci sempre batalhou pelos próprios interesses – e não por uma causa coletiva.
"Só luta por uma causa quem tem valor. Os que brigam por interesse têm preço. Não que não me custe dor, sofrimento, medo e às vezes pânico. Mas prefiro morrer que rastejar e perder a dignidade", afirmou Dirceu, condenado na Operação Lava Jato, disse ainda que prefere "morrer" antes de delatar."

Muito oportunas estas palavras de Zé Dirceu neste momento mas bem que poderia ter sida ditas antes, lá atrás, quando o condenaram sem provas no "mensalão", a AP 470.

Naquele momento todos nós esperávamos dele uma autodefesa menos "elegante", mais contundente e incisiva como está fazendo agora. É bem verdade que muitos amigos e os próprios advogados devem ter aconselhado Dirceu a ser prudente para não piorar a situação diante dos carrascos-juízes, comedimento que hoje se vê de nada serviu.

Bem vindas as palavras de Zé Dirceu. Acredito que todos os que forem perseguidos de agora por diante devem fazer um enfrentamento mais incisivo, mostrarem que são perseguidos e não julgados e deixarem claro que não fazem acordos com inimigos neste tipo de situação onde se quer a desonra, transformar o perseguido em um trapo.

Vamos ver quem é que terá a coragem e a honradez de inaugurar esta nova fase no enfrentamento dos carrascos fantasiados de juízes.

    
Nota