A CLASSE DOMINANTE DIVIDIDA
O Estado abriga a síntese da luta política. Só não esquecendo esta verdade é possível entender o que se passa hoje no Brasil, uma luta dura entre duas facções da classe dominante com a prisão de vários empresários como Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht, e do presidente da UTC, Ricardo Pessoa entre outros presos nos anos recentes.
É corrente a constatação de que garantias
e direitos fundamentais estão sendo violadas para perseguir pessoas
do PT ou empresários. Vários artigos foram escritos por advogados e professores
[1] que certificam estes fatos desde a Ação Penal 470, o “mensalão”, e agora
praticados no varejo pelo juiz Sérgio Moro na Operação Lava a Jato.
Estas ilegalidades são a
face visível do uso de parte do Judiciário para ganhar a luta política. Os
banqueiros que emprestaram o dinheiro para o caixa 2 do PT e encarcerados
na Ação Penal 470 foram para a cadeia por terem colaborado com o partido e não
por ilicitudes cometidas. Marcelo Odebrecht está preso sem ter sido ainda
julgado, não por ter sido condenado mas sim pela sua colaboração com o PT e seu projeto.
Em síntese, uma parte da
classe dominante está prendendo a outra em uma luta política implacável e o
PT é coadjuvante, tem papel secundário.
O mensalão do PSDB em Minas Gerais foi feito com grana pública surrupiada das estatais mineiras, CEMIG, COPASA, BEMGE. Os fatos ocorreram em 1998 mas a DENÚNCIA só foi oferecida pelo Procurador-Geral Antonio Fernando de Barros em 2007 e recebida pelo STF em 2008. Até hoje nunca foi julgado e nunca será, exceto para ser declarada a prescrição das penas dos crimes.
O senador Zezé Perrela, amigão de Aécio Neves, teve um HELICOCA apreendido com 450 kg de pasta de cocaína e nada lhe ocorreu, sequer foi ouvido em Inquérito Policial e ainda teve seu aviãozinho devolvido, possivelmente com um pedido de desculpas.
Este é o resumo da ópera: o PT tem ganhado a eleição para Presidente da República mas não controla o Estado,
quer a execução das leis mas quem de fato controla o Estado é o PSDB e o DEM.
Estes dois partidos são os mais
lídimos representantes da facção da classe dominante subserviente aos EUA e
refratária a um projeto de desenvolvimento nacional autônomo.
Derrotados nas urnas seguidas
vezes adotaram como estratégia fazer a disputa política pelo manejo aparelhado do
Estado desde a AP 470, o "mensalão". É isto que explica o PT no
governo federal e petistas sendo perseguidos e presos sem provas, em processos
forjados.
Na impossibilidade de usar o
Exército, a espinha dorsal do Estado, em uma quartelada clássica para recuperar
o governo federal e frear as reformas tocadas pelo PT, o PSDB e o DEM estão
usando parte do Judiciário e a mídia para atingir seus fins.
O uso da mídia para
destruir adversários através de um noticiário manipulado e o uso do Judiciário
para prender sob uma capa de suposta legalidade é uma arma diabólica pois
escapa à percepção da maioria que se trata do uso político de supostos meios
neutros para fins exclusivamente de luta política.
Em um futuro próximo se imporá a
necessidade de retirarmos estas máquinas diabólicas das mãos de quem faz delas
uso indevido. A mídia deverá ser regulada nos termos da
Constituição Federal, que proíbe monopólios e a propriedade cruzada, e todos
os crimes deverão ser de competência do Tribunal do Júri, onde o
cidadão comum é o juiz, a sociedade julga e assim a manipulação do julgamento é reduzida.
Em política só são
perceptíveis as táticas, as ações, os atos praticados, a estratégia
é abstrata e fica guardada sob sete chaves. É inconcebível que alguém
anuncie aos quatro ventos sua estratégia, a maneira pela qual pretende derrotar
o inimigo.
É assim que só vemos as ações
táticas cotidianas levadas a efeito pela oposição e seu braço midiático, a manipulação
do noticiário, e as ilegalidades cometidas contra presos e processados.
No enfrentamento que se desenrola
no cenário atual é quase impossível a esquerda não ser derrotada pois para não
ser defenestrada precisa reverter a manipulação da opinião
pública.
Isto está difícil, a economia não
ajuda no momento, e tentar mostrar que existe manipulação da máquina estatal, especificamente de parte do Poder Judiciário e de delegados da Polícia Federal, é quase impossível. Como o cidadão comum poderá perceber ou admitir que os que estão violando as leis e
suprimindo garantias são os que estão prendendo e julgando?
Reverter a opinião pública neste
cenário é tarefa tão difícil quanto brigar com um cego treinado em briga de
foice no escuro em um quarto com as luzes apagadas.
Mas existe uma saída. A aliança
do PT com uma parte da classe dominante ao colocar um empresário, José Alencar,
como vice de Lula e mostrar que o projeto desenvolvimentista é bom para
todos e mais ainda para o empresariado que se beneficia com o fortalecimento do
mercado interno pode trazer uma reação.
Se a parte da classe dominante
que está sendo presa resolver reagir colocando o povo como fator de decisão
desta luta teremos grandes mobilizações. Resta ver se preferirá ser derrotada, encarcerada
e suas empresas quebradas sem tugir nem mugir.
As
mobilizações de massas
Passei grande parte de minha vida
procurando aprender como mobilizar pessoas e aprendi que não se faz mobilização
sem uma preparação anterior e sem recursos humanos e materiais.
Acredito que se fizéssemos uma frente
de esquerda com um OBJETIVO DEFINIDO teríamos chances de um
enfrentamento em defesa do governo e contra a regressão que o Congresso hostil
tenta impor.
Tenho como certo que o melhor tema para
prepararmos a população para a mobilização seria o ORÇAMENTO PÚBLICO da
UNIÃO; ele é o objeto da disputa política pois é com ele que se faz
os programas sociais, o sistema de saúde pública, escolas
públicas, previdência pública.
Banqueiros, industriais, a turma
do agronegócio, exportadores e até simples ladrões estão de olho no ORÇAMENTO
PUBLICO, disputam-no com seus grupos de pressão e a mídia, seu mas forte instrumento.
A população beneficiária dos
programas dos últimos anos precisa entrar na disputa política também e saber
que os gastos do ORÇAMENTO são feitos por leis votadas no Congresso Nacional e
que sem maioria lá e sem a disputa sem medo acontece o que está acontecendo: redução da maioridade penal, terceirização generalizada dos contratos de trabalho e o redirecionamento dos gastos do orçamento para os mais ricos.
Para mim não adianta fazer uma
frente de esquerda sem um objetivo específico e sem saber por onde e nem
como começar a mobilização.
A disputa política hoje significa
como sempre uma disputa pelo poder e mais especificamente pelo orçamento
que é com o que se realiza um programa de governo.
Sem mobilizar milhões de
pessoas não vejo como barrar o avanço dos golpistas; não vejo como entornar
água no shop deles, garantir a legalidade e o mandato da Presidenta Dilma.
Como mobilizar estas pessoas
todas? Como fazer isto? De quantas pessoas precisamos, de quais recursos materiais e
de onde virão? São perguntas que precisam de respostas.
Creio que a UNE, sindicatos e
centrais sindicais, partidos, movimentos sociais poderiam fazer desta frente de
esquerda uma realidade. O objetivo: a disputa do orçamento e a defesa do mandato da Presidenta Dilma, eleita pela maioria para executar um programa de governo.
Notas
[1] Luiz Flávio Gomes: “Um mesmo ministro do Supremo investigar e julgar é do tempo da Inquisição”
VOLUNTARIEDADE NECESSÁRIA
Troca de liberdade por delação premiada é forma DE coação
Troca de liberdade por delação premiada é forma DE coação
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