terça-feira, 7 de julho de 2015

          A CLASSE DOMINANTE DIVIDIDA

                     



O Estado abriga a síntese da luta política. Só não esquecendo esta verdade é possível entender o que se passa hoje no Brasil, uma luta dura entre duas facções da classe dominante com a prisão de vários empresários como Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht, e do presidente da UTC, Ricardo Pessoa entre outros presos nos anos recentes.

É corrente a constatação de que garantias e direitos fundamentais estão sendo violadas para perseguir pessoas do PT ou empresários. Vários artigos foram escritos por advogados e professores [1] que certificam estes fatos desde a Ação Penal 470, o “mensalão”, e agora praticados no varejo pelo juiz Sérgio Moro na Operação Lava a Jato.

Estas ilegalidades são a face visível do uso de parte do Judiciário para ganhar a luta política. Os banqueiros que emprestaram o dinheiro para o caixa 2 do PT e encarcerados na Ação Penal 470 foram para a cadeia por terem colaborado com o partido e não por ilicitudes cometidas. Marcelo Odebrecht está preso sem ter sido ainda julgado, não por ter sido condenado mas sim pela sua colaboração com o PT e seu projeto.

Em síntese, uma parte da classe dominante está prendendo a outra em uma luta política implacável e o PT é coadjuvante, tem papel secundário.

O mensalão do PSDB em Minas Gerais foi feito com grana pública surrupiada das estatais mineiras, CEMIG, COPASA, BEMGE. Os fatos ocorreram em 1998 mas a DENÚNCIA só foi oferecida pelo Procurador-Geral Antonio Fernando de Barros em 2007 e recebida pelo STF em 2008. Até hoje nunca foi julgado e nunca será, exceto para ser declarada a prescrição das penas dos crimes.

O senador Zezé Perrela, amigão de Aécio Neves, teve um HELICOCA apreendido com 450 kg de pasta de cocaína e nada lhe ocorreu, sequer foi ouvido em Inquérito Policial e ainda teve seu aviãozinho devolvido, possivelmente com um pedido de desculpas. 

Este é o resumo da ópera: o PT tem ganhado a eleição para Presidente da República mas não controla o Estado, quer a execução das leis mas quem de fato controla o Estado é o PSDB e o DEM.

Estes dois partidos são os mais lídimos representantes da facção da classe dominante subserviente aos EUA e refratária a um projeto de desenvolvimento nacional autônomo.

Derrotados nas urnas seguidas vezes adotaram como estratégia fazer a disputa política pelo manejo aparelhado do Estado desde a AP 470, o "mensalão". É isto que explica o PT no governo federal e petistas sendo perseguidos e presos sem provas, em processos forjados.

Na impossibilidade de usar o Exército, a espinha dorsal do Estado, em uma quartelada clássica para recuperar o governo federal e frear as reformas tocadas pelo PT, o PSDB e o DEM estão usando parte do Judiciário e a mídia para atingir seus fins.

O uso da mídia para destruir adversários através de um noticiário manipulado e o uso do Judiciário para prender sob uma capa de suposta legalidade é uma arma diabólica pois escapa à percepção da maioria que se trata do uso político de supostos meios neutros para fins exclusivamente de luta política.

Em um futuro próximo se imporá a necessidade de retirarmos estas máquinas diabólicas das mãos de quem faz delas uso indevido. A mídia deverá ser regulada nos termos da Constituição Federal, que proíbe monopólios e a propriedade cruzada, e todos os crimes deverão ser de competência do Tribunal do Júri, onde o cidadão comum é o juiz, a sociedade julga e assim a manipulação do julgamento é reduzida.

Em política só são perceptíveis as táticas, as ações, os atos praticados, a estratégia é abstrata e fica guardada sob sete chaves. É inconcebível que alguém anuncie aos quatro ventos sua estratégia, a maneira pela qual pretende derrotar o inimigo.

É assim que só vemos as ações táticas cotidianas levadas a efeito pela oposição e seu braço midiático, a manipulação do noticiário, e as ilegalidades cometidas contra presos e processados.

No enfrentamento que se desenrola no cenário atual é quase impossível a esquerda não ser derrotada pois para não ser defenestrada precisa reverter a manipulação da opinião pública.

Isto está difícil, a economia não ajuda no momento, e tentar mostrar que existe manipulação da máquina estatal, especificamente de parte do Poder Judiciário e de delegados da Polícia Federal, é quase impossível. Como o cidadão comum poderá perceber ou admitir que os que estão violando as leis e suprimindo garantias são os que estão prendendo e julgando?

Reverter a opinião pública neste cenário é tarefa tão difícil quanto brigar com um cego treinado em briga de foice no escuro em um quarto com as luzes apagadas.

Mas existe uma saída. A aliança do PT com uma parte da classe dominante ao colocar um empresário, José Alencar, como vice de Lula e mostrar que o projeto desenvolvimentista é bom para todos e mais ainda para o empresariado que se beneficia com o fortalecimento do mercado interno pode trazer uma reação.

Se a parte da classe dominante que está sendo presa resolver reagir colocando o povo como fator de decisão desta luta teremos grandes mobilizações. Resta ver se preferirá ser derrotada, encarcerada e suas empresas quebradas sem tugir nem mugir.

As mobilizações de massas

Passei grande parte de minha vida procurando aprender como mobilizar pessoas e aprendi que não se faz mobilização sem uma preparação anterior e sem recursos humanos e materiais.

Acredito que se fizéssemos uma frente de esquerda com um OBJETIVO DEFINIDO teríamos chances de um enfrentamento em defesa do governo e contra a regressão que o Congresso hostil tenta impor.

Tenho como certo que o melhor tema para prepararmos a população para a mobilização seria o ORÇAMENTO PÚBLICO da UNIÃO; ele é o objeto da disputa política pois é com ele que se faz os programas sociais, o sistema de saúde pública, escolas públicas, previdência pública.

Banqueiros, industriais, a turma do agronegócio, exportadores e até simples ladrões estão de olho no ORÇAMENTO PUBLICO, disputam-no com seus grupos de pressão e a mídia, seu mas forte instrumento.

A população beneficiária dos programas dos últimos anos precisa entrar na disputa política também e saber que os gastos do ORÇAMENTO são feitos por leis votadas no Congresso Nacional e que sem maioria lá e sem a disputa sem medo acontece o que está acontecendo: redução da maioridade penal, terceirização generalizada dos contratos de trabalho e o redirecionamento dos gastos do orçamento para os mais ricos. 

Para mim não adianta fazer uma frente de esquerda sem um objetivo específico e sem saber por onde e nem como começar a mobilização.

A disputa política hoje significa como sempre uma disputa pelo poder e mais especificamente pelo orçamento que é com o que se realiza um programa de governo.

Sem mobilizar milhões de pessoas não vejo como barrar o avanço dos golpistas; não vejo como entornar água no shop deles, garantir a legalidade e o mandato da Presidenta Dilma.

Como mobilizar estas pessoas todas? Como fazer isto? De quantas pessoas precisamos, de quais recursos materiais e de onde virão? São perguntas que precisam de respostas.

Creio que a UNE, sindicatos e centrais sindicais, partidos, movimentos sociais poderiam fazer desta frente de esquerda uma realidade. O objetivo: a disputa do orçamento e a defesa do mandato da Presidenta Dilma, eleita pela maioria para executar um programa de governo.


Notas

[1] Luiz Flávio Gomes: “Um mesmo ministro do Supremo investigar e julgar é do tempo da Inquisição”


VOLUNTARIEDADE NECESSÁRIA
Troca de liberdade por delação premiada é forma DE coação

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