UM URUBU POUSOU
Urubu solitário no 15.o andar de um prédio na Av. Faria Lima – São Paulo, de frente para o Rio Pinheiros (Foto: Paulo Ciclista) |
Aqui
um artigo de Paulo Moreira Leite [1] esclarecedor e rico em detalhes sobre o que
significa a eleição de Eduardo Cunha para presidente da Câmara dos Deputados
ocorrida ontem, 01 de fevereiro. Em face desta derrota do meu ponto de
vista o governo vai apenas sobreviver, se tanto. Reverter a maré conservadora e
disposta a cancelar as principais conquistas dos últimos 12 anos dentro do
próprio Congresso será uma luta titânica.
Com
a eleição deste que é um dos maiores picaretas da República para a Presidência
da Câmara dos Deputados o impeachment da Presidenta Dilma é uma possibilidade
no horizonte. O cara mostrou que tem liderança sobre a maioria na Câmara dos
Deputados e nada será aprovado sem o apoio ou contra a vontade dele.
Sem maioria no Congresso Nacional nenhum Presidente da
República governa, pode até nem completar o mandato. Esta é a realidade; quem a
desconsidera despreza as alianças em nome de julgamentos pessoais e amadorismo.
O
PT nunca teve maioria no Congresso, daí sempre precisou fazer alianças para
governar. A mídia golpista e seus seguidores sempre procuraram trincar esta
aliança, que proporcionava maioria, conservadora, precária, mas que permitiu os
avanços no que pertine aos direitos sociais dos últimos 12 anos.
Tentar
nas ruas colocar o Congresso no rumo proposto pelo governo de centro-esquerda
desenvolvido pelo Executivo nos últimos anos só com ensaio de uma revolução. E
é aí que a porca torce o rabo pois o povo brasileiro não tem estrutura moral,
intelectual e psicológica para tanto, no máximo por aqui o sujeito vitimado
pela exploração e desigualdades de renda brutais vira assaltante, sequestrador,
traficante de maconha, crack ou cocaína, ladrão e algoz de outros iguais a si.
Esta
eleição de Eduardo Cunha é o resultado da anterior, a de outubro do ano passado,
em que ficou evidente que os movimentos sociais não têm penetração no tecido
social suficiente para fazer maioria no Congresso Nacional e assim ter poder
para fazer as reformas desejadas. Enfim, faltaram votos aos movimentos sociais
e não adianta bazófia.
Desde
o resultado das eleições que me falta alento. A sociedade brasileira é
extremamente conservadora e isto inclui os que querem reformá-la, a esquerda em
seus diversos espectros (onde até racistas infiltrados existem) e até as
vítimas deste conservadorismo.
Dois
exemplos deste conservadorismo. O Estado de São Paulo tem a cidade e é o Estado
mais industrializado do Brasil, no entanto é o mais politicamente conservador e
com desigualdades sociais mais profundas. Neste Estado que deveria ser a vitrine
do Brasil moderno o PSDB ganhou as eleições para governador dos últimos 20 anos mesmo sendo um entrave para a sustentação da escalada industrial.
Na
cidade de Salvador existem bairros em que nem mais carteiros comparecem para
executarem o trabalho de entrega de correspondências e demais objetos devido aos assaltos (roubos). Tendo uma desigualdade social
das mais gritantes do Brasil pois herdada da escravidão hoje Salvador é um
reduto do DEM e a ponta de lança para este partido retornar ao governo do
Estado.
O
conservadorismo arraigado que andava morno nos últimos 12 anos retomou o fôlego
na última eleição elegendo o mais conservador Congresso desde 1964. É uma
reação aos 12 anos do PT no governo federal. Ao contrário do PT que tem
enfrentado a crise social com políticas distributivas de renda, os regressistas
acantonados no Congresso infensos a reformas vão combater a crise social
afrontando os efeitos e não as causas.
Para
tanto vão turbinar o aparato repressivo a começar pelo aumento desproporcional
dos proventos dos juízes, que automaticamente aumenta os proventos dos membros
do Ministério Público, depois com uma nova LOMAN (Lei Orgânica da Magistratura)
assegurarão segurança pessoal aos juízes em tempo integral e na ponta as polícias vão
receber também suas migalhas.
A
última e mais dura batalha nesta escalada do aumento da repressão para conter a
crise social combatendo os efeitos ao mesmo tempo em que impedem as reformas
será pela redução da maioridade penal.
Tenho
a sensação que um urubu mais uma vez pousou na sorte do povo brasileiro.
Nota
[1] Eduardo Cunha abre era regressiva http://paulomoreiraleite.com/2015/02/01/eduardo-cunha-abre-era-regressiva/
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